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20/07/2016

Quer comprar ou vender? Saiba como avaliar o valor da empresa

Em ano de recessão, a avaliação financeira pode ficar muito baixa para quem quer vender parte ou todo o negócio. Compradores devem observar não só o valor, mas as contingências

Em períodos de recessão econômica, a avaliação do valor das empresas – no jargão técnico, valuation – pode reduzir muito o valor de um empreendimento (ou parte dele). 

É comum que um negócio à venda esteja com o faturamento reduzido na crise e tenha pendências –como dívidas com bancos e obrigações trabalhistas, previdenciárias e tributárias.

Quem está pensando em vender deve contratar pelo menos um contador ou advogado para acompanhar a negociação. E isso também, é claro, para as pequenas e microempresas em dificuldades

“Já vi empresas perderem valor na avaliação de R$ 100 mil a R$ 200 mil por não recorrer a profissionais. De outro lado, consultorias cobram um preço acima do que as micro e pequenas podem pagar, de cerca de R$ 7 mil”, diz João Carlos Natal, consultor do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)

Ele diz ter percebido um aumento na procura de informações sobre o valuation no atendimento do Sebrae-SP, principalmente de empresários que querem descobrir o valor da empresa para desfazer sociedades em conflito e pessoas físicas que querem comprar. 

“Muitas pessoas estão sendo demitidas e, com o dinheiro, vão abrir novos negócios ou entrar como sócias. Para quem quer passar uma empresa para a frente não está fácil. A dica é procurar um cliente fiel e entusiasta da empresa”, diz Natal. 

De acordo com o consultor, é mais difícil encontrar sócios por meio de fundos de private equity, já que estes investem em grandes ou, no máximo, em médias companhias. Já os fundos de Venture Capital costumam procurar empresas nascentes, as startups.

Tanto quem quer vender quanto quem quer comprar deve levar em consideração uma série de questões, que passam não só pela avaliação do valor financeiro do negócio, mas também por contingências – pagamentos em aberto de impostos, obrigações trabalhistas e previdenciárias dos funcionários e demais contratos. 

Isto porque o montante que corresponde a essas contingências em aberto deve ser descontado do valor da empresa.

JULIETA DEIXOU PARA EMPREENDER EM 2016

 

Foi observando os contratos que a fisioterapeuta Julieta Anbar desistiu de comprar uma clínica de estética em abril. Apesar da crise econômica, ela reuniu recursos próprios, os da irmã e do namorado para investir. 

“O que a proprietária pedia estava abaixo do valor que calculei. Estava tudo em ordem com a documentação e ela tinha fluxo de caixa para os próximos seis meses. Mas desisti quando vi que o contrato de aluguel estava acabando e seria renovado com reajuste de 50%”, relata. 

Julieta revela que o acordo previa o pagamento de uma entrada e o restante em dez parcelas, que ela quitaria com o faturamento projetado da clínica. Mas com o aumento expressivo no valor do aluguel e mais a crise, ficou temerosa de não conseguir arcar com essa dívida. 

“Trabalho em outra clínica e vejo que a crise chegou à área de estética. Tive clientes que gastavam R$ 2 mil em tratamentos e que, agora, só chegam a R$ 1 mil. Vou voltar a pensar sobre a possibilidade de comprar uma clínica no ano que vem”, afirma. 

MÉTODOS FINANCEIROS X ESTRATÉGICOS

O consultor do Sebrae-SP indica quatro métodos de avaliação para identificar faixas de negociação – preço mínimo, médio e máximo. 

“Quem vai comprar precisa, no mínimo, fazer múltiplos de dois anos para calcular o retorno sobre o investimento. Se for uma startup, tem de multiplicar por cinco anos, que é a duração do ciclo do negócio”, afirma Natal. 

Outra dica para quem quer vender é olhar o contrato social para verificar se há alguma cláusula determinando se a empresa deve ser avaliada pelo valor patrimonial caso o sócio queira sair.

Natal diz, porém, que os métodos pelo faturamento, fluxo de caixa e lucro podem não trazer um valor significativo para a empresa caso tenha perdido vendas ou está excessivamente endividadas com os bancos.

Neste caso, o empresário deve procurar um comprador estratégico, que pode ser o dono de uma empresa que atue em um ramo complementar. 

Um exemplo ilustrativo: uma rede varejista de calçados que tem recursos para abrir lojas em outras cidades e identifica que é mais vantajoso adquirir pequenas empresas do ramo nas localidades do que montar estruturas próprias em cada local, 

Nesse caso, complementa, a avaliação não fica restrita apenas ao aspecto financeiro, mas também à uma oportunidade de negócio.

CARONE, DA NEXTO: PARTICULARIDADES MUDAM O PREÇO

 

 

Eduardo Shakir Carone, sócio-fundador da Nexto Investimentos, diz que situação semelhante pode ocorrer com uma empresa estrangeira, da mesma atividade, que quer entrar no mercado brasileiro. Nessas negociações, o valor é mais estratégico do que financeiro, como já ocorreu com o próprio Carone. 

“Há alguns anos tínhamos participação em uma empreiteira forte em contratos públicos de rodovias, só que ela não tinha nenhuma obra de ponte em seu acervo técnico. Por isso, quando a licitação da rodovia tinha uma ponte no caminho, não podia participar", afirma. "Compramos então uma empresa que só fazia obras de pontes, porque complementava o serviço da empreiteira.” 

O LADO DO INVESTIDOR

Essa seria a melhor situação para a pequena empresa, já que o investidor de capital de risco está exigindo retornos na faixa de 30% para comprar participações em empresas – considerando que poderia ganhar 15% numa aplicação de renda fixa de baixo risco e alta liquidez. 

Para os fundos de private equity e venture capital, vale a máxima de que quanto maior o risco, maior deve ser o retorno.

Tradicionalmente, esses fundos compram uma parte do negócio e participam da gestão por um prazo que pode variar de quatro a sete anos. 

Um investidor profissional vai descontar o retorno desejado do valor da empresa, o que significa que a redução de seu preço será expressiva. 

“Se a taxa básica de juros estivesse a 7,5% ao ano, o investidor poderia pedir retorno de 15%. Mas com a Selic atual, espera-se o dobro desse percentual”, diz Carone.

Ele dá o exemplo de um salão de cabeleireiro que lucra R$ 1,2 milhão por ano. Se um investidor espera um retorno de 12% ao ano sobre esse lucro, a empresa vai valer R$ 10 milhões. Mas hoje, para ganhar o dobro desse retorno, ou 24%, o investidor vai aceitar pagar a metade do valor, ou R$ 5 milhões.

Carone fala com a experiência de quem observa as empresas que querem ser vendidas a investidores. Ele faz a gestão de um fundo que investe apenas em startups com recursos próprios no valor de R$ 2 milhões e do patrimônio de R$ 650 milhões de cinco grupos empresariais familiares.

 “Está difícil encontrar boas empresas”, afirma. Segundo ele, muitas são pegas no processo de due diligence, que é uma investigação e auditoria em contratos e contingências – que passam pelo endividamento da empresa com os bancos e inadimplência com obrigações trabalhistas, previdenciárias e impostos. 

Se houver um volume grande de contingências, o valor de uma empresa pode diminuir muito na negociação ou até mesmo não valer a pena para o investidor. 

Fonte: Diário do Comércio